sexta-feira, 25 de março de 2011

Texto - Roberto Lobato Corrêa - Região e Organização Espacial

SUMÁRIO

1. Introdução

2. As correntes do pensamento geográfico
O determinismo ambiental
O possibilismo
O método regional
A nova geografia

3. Região: um conceito complexo
Região natural e determinismo ambiental
Possibilismo e região
Nova geografia, classes e regiões
Região e geografia crítica
Região, ação e controle

4. Organização espacial
Organização espacial: uma conceituação
Organização espacial: capital e estado
Organização espacial: reflexo social
Organização espacial e reprodução
Estrutura, processo, função e forma
Espaço e movimento social urbanos

5. Vocabulário crítico

6. Bibliografia comentada







4 - ORGANIZAÇÃO ESPACIAL


Introdução

Na discussão sobre a natureza da geografia, a questão mais central, presente e polêmica é a de seu objetivo. Está presente em Ratzel, Vidal de la Blache, Hartshorne, na nova geografia e na geografia crítica. O objetivo é a paisagem, a região, o espaço? Ou será outra coisa? Acreditamos que para se responder a esta pergunta há que se discutir antes o que é uma ciência social, pelo menos no que diz respeito ao seu objetivo.
A história, a antropologia, a economia, a geografia e a sociologia, entre outras ciências sociais, estudam a sociedade. Está é muito complexa, multifacetas, sendo constituída por elementos, como as classes sociais, as artes, a cidade, o campo, o Estado, os partidos políticos, as religiões etc. Os numerosos componentes da sociedade estão articulados, imbricados de tal modo, que se fala de uma totalidade social, cuja complexidade abarca as contradições internas e o movimento de transformação. Assim, torna-se difícil a compreensão da sociedade a partir de uma única ciência social concreta, capaz de analisar detalhadamente de todos os seus elementos, bem como as suas possíveis articulações, desvinculado de uma ação que é um tempo social e espacial.
A ação e controle sobre uma determinada área quer garantir, em última análise, a reprodução da sociedade de classes, com uma dominante, que se localiza fora ou no interior da área submetida à divisão regional ou, como se refere a literatura, à regionalização. Esta distinção parte da aceitação explícita ou implícita da diferenciação de áreas ao longo da história. A sua retificação ou retificação se dá a cada momento, conforme os interesses e os conflitos dominantes de cada época. São eles que, por outro lado, levam as unidades territoriais de ação e controle, as regiões, a serem organizadas de modos diferentes: de um lado, a partir de um governo de nível hierárquico inferior ao do núcleo de dominação; de outro, de um mais ou menos complexo sistema de planejamento especializado. Ambos cumprindo o papel de ação e controle. Neste exemplo, o Estado, surgido dentro do modo de produção dominante, é o agente da regionalização.
A Antiguidade fornece-nos exemplos da criação de regiões em um contexto de conquista territorial. Tanto o império romano como o persa estavam divididos em regiões ou unidades territoriais de ação. Regio e Satrápia são denominações que designam essas unidades. A satrápia do império persa eram governadas pelos sátrapas, os "olhos e ouvidos do rei"; a palavra região vem do latim regio, que por sua vez deriva di verbo regere, isto é, governar, reinar.
No feudalismo, a regionalização, vista como forma de ação e controle, tinha sua expressão nas marcas, nos ducados e nos condados, governados, respectivamente, por marqueses, duques e condes.
No capitalismo, as regiões de planejamento são unidades territoriais através das quais um discurso da recuperação e desenvolvimento é aplicado. Trata-se, na verdade, do emprego, em um dado território, de uma ideologia que tenta restabelecer o equilíbrio rompido com o processo de desenvolvimento. Este discurso esquece, ou a ele não interessa ver, que no capitalismo as desigualdades regionais constituem, mais do que em outros modos de produção, um elemento fundamental de organização social. Em muitos casos, a ação decorrente do planejamento regional, proporcionou um relativo processo e uma maior integração da região ao modo de produção capitalista, quer dizer, a região sob intervenção planejadora passa a ficar sob maior controle do capital e de seus proprietários.
Um exemplo famoso encontra-se na bacia do rio Tenesse, onde atuou o TVA (Tennessee Valley Authority), um organismo federal que visava a recuperação daquela área social e economicamente deprimida do território norte-americano. Inspirou outros que se apoiaram na concepção da bacia hidrográfica como região de planejamento: o caso da Comissão do Vale do São Francisco no nordeste brasileiro é exemplar. O da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) é outro exemplo de região de planejamento bastante conhecido. Aqui, trata-se de um território definido sobretudo por limites político-administrativos, os quais encerram problemas sociais e econômicos comuns. Já no caso da Amazônia,a ação da SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômico da Amazônia), antecessora da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), faz-se territorialmente em uma região natural.
vContudo, é notório que no sistema de planejamento desenvolvimento desenvolveu-se a concepção de existência da cidade, sobretudo do centro metropolitano, o foco irradiador do desenvolvimento: ali se concentravam as forças motrizes do progresso - a indústria e as elites, além dos necessários serviços de apoio. Logo após a 1° Guerra Mundial, na Inglaterra, a área de planejamento urbano e regional.
Dada a dificuldade de se estudar a totalidade social em sua abrangência, verifica-se uma divisão do saber, originando diferentes ramos. É preciso, no entanto, deixar claro que não estamos falando de uma compartimentação positivista, onde cada ciência tem seu próprio objeto, achando-se separada das outras. No caso, as ramificações têm um objetivo comum, a sociedade, analisada à luz de uma mesma teoria, fundamentada no materialismo histórico. O obejtivo da geografia é a sociedade, e não a paisagem, a região, o espaço ou outra coisa qualquer.







Organização Espacial: Uma Conceituação


Organização Espacial: Capital e Estado


Organização Espacial: Reflexo Social


Organização Espacial e Reprodução


Estrutura, Processo, Função e Forma

Nenhum comentário:

Postar um comentário